Semiárido não muda: é preciso alterar a cultura

3 de abril de 2013 - 12:02

Jornal Diário do Nordeste

03.04.2013

Um maior planejamento também é apontado como solução para reduzir os efeitos da escassez de água

Apesar dos avanços ocorridos na última década, com a incorporação de novas técnicas de irrigação e obras para integração de bacias, por que a população mais pobre do semiárido nordestino continua sofrendo com o difícil acesso à água?

Para a economista Tânia Bacelar, a indústria da seca é coisa do passado. Ela considera que o correto é investir mais na ovinocaprinocultura FOTO: JOSÉ LEOMAR

Para a especialista em desenvolvimento regional, economista Tânia Bacelar, a premissa para minimizar os efeitos da seca é muito simples. “É preciso mudar a economia da região porque o semiárido não irá mudar”, frisa.

Ela é enfática ao afirmar que “a indústria da seca é coisa do passado” e que o semiárido mudou muito com fim do algodão. Entretanto, afirma ser necessário parar de insistir na pecuária bovina de grande porte e investir mais na ovinocaprinocultura.

“A pecuária de grande porte não tem sustentação para competir com o Centro Oeste. A gente já tinha começado essa conversão, mas ficamos no meio do caminho. Já sabemos que a ovinocaprinocultura é mais indicada para a nossa região”, diz.

Adutora não resolve

Quanto à população castigada com a seca, ela afirma que a demanda dessas pessoas não se resolve com adutoras, nem com canais de irrigação, mas com a oferta atomizada, por meio de pequenas obras como a construção de cacimbas.

“O problema é que existe cerca de um milhão de famílias sem acesso à água no meio do semiárido e só foram construídas 300 mil cacimbas. Então, a oferta não foi feita na dimensão da demanda. Para levar água a uma casa no meio do semiárido não é viável usar canal de irrigação”, argumenta Tânia Bacelar.

“Não há uma visão empresarial da terra. Então, é uma questão cultural e educacional, que precisa ser resolvida”, diz Rogério Campos FOTO: CAROL DOMINGUES

Integração de bacias

Ela reconhece, porém, que nas cidades maiores é preciso investir em obras hídricas de maior dimensão. Nesse contexto, ela lembra que “a principal obra já está encaminhada”, referindo-se à integração de bacias. “O problema é que a seca veio antes de terminar as obras”, completa a economista.

Mudança cultural

Para o professor Rogério Campos, doutor em Recursos Hídricos pela Universidade de Fortaleza (Unifor), a questão é também cultural e educacional. “A seca é um fenômeno natural. Não tem solução. A construção de reservatórios é a política que vem sendo feita nos últimos anos. É fato que falta um sistema mais eficiente de distribuição de água, mas o problema é agravado porque no semiárido sobrevive a agricultura de subsistência, caracterizada pelo uso de técnicas antigas. Não há uma visão empresarial da terra. Então, é uma questão cultural e educacional, que precisa ser resolvida”. Supondo que houvesse o que Rogério Campos chama de “visão empresarial da terra”, mesmo assim, ele afirma que, devido à escassez de recursos hídricos, nunca será possível atender em 100% a demanda do ser humano por água. “A agricultura consome 70% da água do planeta, enquanto a indústria e o consumo humano ficam com 15% cada. Então, na prática, não teríamos condições de investir em agronegócio no semiárido”, avalia Campos.

Acumulação

Segundo o professor, onde a escassez de recursos hídricos é mais grave, é preciso acumular água. Na prática, porém, ele diz que onde existe a acumulação, muitas vezes o entrave é a rede de distribuição ou vice-versa. “No Maciço de Baturité, existe rede de distribuição, mas não tem a fonte. Em fevereiro, no Carnaval, já estava faltando água em Guaramiranga. Então o problema de acesso à água é não ter a acumulação”, exemplifica.

Dificuldades

“A pecuária de grande porte não tem sustentação para competir com o Centro Oeste. (…) ficamos no meio do caminho”

Tânia Bacelar
Economista

“A seca é um fenômeno natural. Não tem solução. A construção de reservatórios é a política que vem sendo feita”

Rogério Campos
Professor e doutor em Recursos Hídricos

Saiba mais

– Após a entrega, à Petrobras, da posse do terreno que abrigará a refinaria, um assessor de imprensa do governo estadual informou o acontecimento no Facebook, afirmando que o Ceará “já fez tudo para que este empreendimento seja finalmente instalado”. A postagem teve comentário do ex-chefe de gabinete do governo estadual e atual secretário de Educação de Fortaleza, Ivo Gomes. O irmão do governador , em poucas palavras, disse: “eu não acredito mais”.

– Na tímida cerimônia da entrega do terreno da refinaria Premium II, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, foi mais uma coadjuvante na visita de Dilma ao Ceará. Como se costuma afirmar no dito popular brasileiro: “entrou muda e saiu calada”.

– A presidente Dilma Rousseff afirmou que o projeto cearense do Eixão das Águas, que distribui os recursos hídricos do Castanhão à Região Metropolitana de Fortaleza, foi responsável por colocar o Ceará na liderança da oferta de águas no Brasil. E mais: disse que qualquer Estado que quiser realizar um grande projeto hídrico deverá vir aprender no Ceará.

-O prefeito de Poranga animou os colegas e todos os presentes ao receber as chaves dos carros pipas e demais veículos doados pelo governo federal direto das mãos da presidente Dilma ao gritar um sonoro ´uhuu´.

-Sentados um ao lado do outro, a presidente pareceu interessada no Centro de Eventos do Ceará ao acompanhar atenta a explicação de Cid Gomes, que apontava para o teto do salão onde acontecia a cerimônia com os prefeitos.

ÂNGELA CAVALCANTE
REPÓRTER