Criadores investem em tecnologia e passam a reutilizar a água dos tanques de camarão e tilápia

29 de junho de 2018 - 15:03

Comitiva chefiada pelo secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, visitou, nesta quarta-feira (06/07), fazendas que estão empregando novas tecnologias na criação de camarão e tilápia no Ceará. As iniciativas, além de se abastecerem de fontes subterrâneas, promovem o reaproveitamento da água dos tanques. Além disso, alguns viveiros começam a ser cobertos, uma iniciativa que reduz consideravelmente as perdas por evaporação.
“Costumo dizer que essa seca tem nos obrigado a quebrar paradigmas. Aqui, estamos diante de mais um exemplo disso: a carcinicultura sempre foi apontada como uma atividade perdulária do ponto de vista hídrico, e agora nos deparamos como iniciativas que demonstram o contrário”, avalia Teixeira. Segundo ele, as novas tecnologias e o uso de água de poço representam um alento para os produtores e demonstram que a atividade pode ser desenvolvida apesar das limitações hídricas.
Em Jaguaruana, município do Vale do Jaguaribe, produtores se adaptaram à escassez da água para manter a atividade. “Antes, toda produção era baseada na água captada no Rio Jaguaribe, que era liberada pelas comportas do Castanhão. Hoje, com as reservas reduzidas a níveis críticos, o setor deu respostas e, mesmo com pouca água, dá sinais de resiliência”, comenta Teixeira.
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Para o presidente a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias, ver a produção de camarão em circuito fechado se materializar é um alento. “Temos consciência da importância da atividade econômica, da água necessária à produção. Mas, infelizmente, atravessamos uma seca muito severa e tivemos de priorizar o abastecimento humano”, destaca.
Segundo Farias, a resposta do setor é fundamental para a economia não só local, mas do estado como um todo. “Só nesse empreendimento, são cerca de 200 empregos diretos gerados”, enumera. “Qual outra atividade no campo, excetuando uma ou outra indústria, geraria tantos postos formais de trabalho?”, avalia.
A unidade visitada em Jaguaruana tem 21 hectares em produção, sete dos quais em regime intensivo. A produção varia de 12 a 15 toneladas por hectare. “A pouca água descartada dos tanques é riquíssima em nutrientes. Ou seja, estamos diante de um rico adubo que pode ser empregado na produção agrícola, numa forma de consórcio que fecha o ciclo e torna a atividade, praticada nesses moldes, ainda mais interessante”, destaca o secretário-adjunto da SRH, Ramon Rodrigues.
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PEQUENOS – A comitiva – integrada ainda perlo secretário-adjunto da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa), Euvaldo Bringel, pelo diretor de agronegócios da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Sílvio Carlos Ribeiro, o superintendente da Sohidra, Yuri Castro, e empresários do setor – visitou ainda experiência de pequenos produtores que também migraram para criação de tilápias em tanques a partir da água de poços.
Essas pequenas experiências são principalmente formadas por ex-criadores que usavam tanques-rede para produzir tilápia no espelho d’água do Castanhão. Com a queda acentuada nos níveis do reservatório, a atividade ficou praticamente inviável devido à qualidade da água. “A saída foi migrar para os tanques fora da barragem, com água de poço e agregar tecnologia. Ainda estamos engatinhando, mas esse é um caminho sem volta”, avalia José Antônio Chaves de Oliveira, criador de tilápia de Jaguaribara.
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José Antônio ainda não sente a atividade como consolidada, apesar de ser um dos criadores em estágio mais avançado na região. Por enquanto, Antônio vende apenas alevinos com cerca de 40 gramas para recria. “Como a venda é garantida para um irmão meu, que produz tilápia em Pernambuco, estou mais ou menos tranquilo. Mas quero chegar a fechar o ciclo”.
Enquanto isso não acontece, a família de José Antônio aproveita a pouca água descartada – a “chamada descarga de fundo” – com fezes, restos de animais mortos e de ração para adubar uma horta, uma plantação de batata-doce, algumas fruteiras e uma pequena capineira para o rebanho. Antônio tem atualmente oito tanques com capacidade para 78 mil litros cada. Todos produzindo alevinos de tilápia. Todos abastecidos graças à água extraída de um único poço amazonas (cacimba). Todos a mostrar como se quebram paradigmas.