Editorial – Desperdício dágua

22 de maio de 2013 - 11:25

Editorial

Desperdício d´água

22.05.2013

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A advertência é da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece): estaria havendo desperdício no consumo de água tratada, em Fortaleza, em plena crise de recursos hídricos, provocada pela irregularidade nas estações de chuva dos últimos dois anos. Essa advertência poderá ser o aviso inicial do racionamento.

O Ceará dispõe de projetos técnicos, planejados, em caráter pioneiro, para fazer circular as águas armazenadas nos açudes públicos: o Canal de Integração de Bacias, capaz de transferir os recursos hídricos acumulados de uma região para outra. Um outro, com maior dimensão, o Cinturão das Águas, alcança todo o espaço físico do Estado.

Entretanto, projetos desse porte exigem, basicamente, para alcançar seus objetivos, investimentos elevados e volume d´água substancial, capaz de ser usada em situações de emergência como a que vem passando o Ceará atualmente. O projeto Cinturão das Águas está planejado para circundar o sopé da Serra do Araripe, e, por lá, alcançar os Inhamuns, despejando a água originária do Rio São Francisco no Vale do Acaraú.

Este seria o primeiro caminho das águas resultantes da transposição do Rio São Francisco para o Ceará, de iniciativa do governo do Estado.

O segundo acesso, constante no projeto de integração, se utiliza do leito do Riacho dos Porcos, no trecho entre Jati, Brejo Santo, Mauriti e Milagres, até desembocar no Rio Salgado, em Quimami, distrito de Missão Velha. De lá, as águas do Velho Chico alcançarão o Açude Orós pelo leito do Rio Salgado, sendo transferidas para o sistema Castanhão-Riachão.

Todas essas iniciativas são válidas e tecnicamente viáveis, a partir da interligação das bacias hidrográficas do Nordeste com o Rio São Francisco. Antes disso, ficam só as conjeturas. Até as esperanças de abastecimento tranquilo para Fortaleza são tênues, diante da indiferença da população para a necessidade de reduzir o consumo d´água.

Nesse ponto, a questão alcança também a Cagece, onde o desperdício em suas redes alcança 25%. Todas as empresas de saneamento do País enfrentam graves problemas de vazamento nas redes de redistribuição, da ordem de 40% da água tratada e disponibilizada para seus consumidores. Essa questão se arrasta desde o período áureo do Plano Nacional de Saneamento (Planasa), nos anos 80, quando ela era questionada pelo órgão financiador dos projetos de água e esgoto: o Banco Nacional da Habitação (BNH).

Ainda assim, os consumidores devem oferecer sua contrapartida, antes da chegada do racionamento, a pior saída para o problema. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera como sendo ideal o consumo diário de 110 litros de água por cada habitante. Segundo a Cagece, em 2012, já no período de estiagem, o consumo diário no Ceará chegou a 143 litros por cada habitante, portanto, 30% acima do recomendado.

Quando começaram a surgir os primeiros sinais da estiagem prolongada, no Ceará, em 2012, os órgãos públicos, controladores da política de suprimento de água tratada, garantiam a normalidade do abastecimento de Fortaleza. Isto porque o açude Castanhão, o principal reservatório do sistema responsável pelo fornecimento de água à Capital, contava, então, com mais de seis bilhões de metros cúbicos acumulados.

Em dois anos, a evapotranspiração foi responsável, principalmente, pela redução dessa reserva à metade. A travessia é difícil e só há um caminho: o uso com parcimônia desse recurso finito.