O desafio da distribuição da água no Ceará

6 de agosto de 2012 - 13:07

Gerenciamento hídrico

Jornal Diário do Nordeste

05.08.2012

O sucesso de açudes a exemplo do gigante Castanhão, é apontado como uma das glórias das obras do Dnocs

Limoeiro do Norte A seca é hoje um problema menor que ontem. As enchentes também. Os reservatórios espalhados pela região Nordeste do Brasil, sobretudo no Ceará, quando não garantem, amenizam a situação de abastecimento dos Municípios – à exceção dos reservatórios menores, que às dezenas têm entrado em colapso neste ano. Mas, o sucesso de açudes como o gigante Castanhão para abastecimento humano e irrigação da agricultura é apontado como uma das glórias do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).

Família retira água em canal de irrigação, não projetado para abastecimento humano FOTO: MELQUÍADES JÚNIOR

Além de ter água para abastecimento ao menos nos próximos quatro anos, o Castanhão ainda é um regulador de cheias, por sua bilionária capacidade de reserva. Especialistas atuantes no Dnocs discordam da tese de que a água dos açudes não tenha por prioridade o abastecimento humano. Sim, parte significativa vai para a irrigação, mas, de acordo com o engenheiro agrônomo Ney Barros, a própria irrigação “também tem sua função social de abastecimento”.

Ney é chefe do setor técnico da coordenadoria estadual do Dnocs. Acompanha a situação dos 65 açudes do departamento no Ceará e comemora que o Castanhão, a mais de 200 quilômetros de distância, consiga ser um garantidor de água para milhões de habitantes em Fortaleza. Além disso, é quem abastece os dois maiores perímetros irrigados do Estado, o Tabuleiros de Russas e o Jaguaribe-Apodi.

Dos Estados do Nordeste, é também o Ceará quem mais possui reservatórios construídos pelo Dnocs. Os 65 açudes estão em todas as macrorregiões do Estado. Também comportam três dos cinco maiores reservatórios do órgão no Nordeste: Castanhão, Orós e Banabuiú. O monitoramento deles, bem como dos outros açudes públicos do Governo do Estado, é feito pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), subordinada à Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado (SRH) do Ceará.

Quanto menos chuvas, mais importância ganham os reservatórios públicos. No caso do Castanhão, até mesmo na enchente de 2009, não existisse teriam sido bem maiores as inundações em Municípios baixos como Limoeiro, Tabuleiro do Norte, Jaguaruana e Itaiçaba.

Monitoramento

Entre federais e estaduais, o Ceará monitora 138 açudes, seguindo com mais de 60% dos 17 bilhões de metros cúbicos de capacidade. Na primeira semana de agosto, 32 açudes estavam com menos de 30% da capacidade, o que representará colapso de abastecimento até o fim do ano.

Em Municípios como Quiterianópolis, a população precisou ser abastecida com carros-pipa. “A política de açudagem é muito importante. O acesso à água é garantido pelos comitês gestores, formados pela própria comunidade e outras representações. Nas reuniões se decidem as formas de liberação da água, de modo a garantir que não se perca a prioridade do abastecimento humano”, afirma Ney Barros.

Para os próximos 50 anos, os especialistas em meteorologia e estudos climáticos apontam um cenário de mais estiagem, menos chuvas e mais calor, ou seja, alto índice de evaporação com uma redução na recarga dos açudes. Nessa projeção de décadas à frente, a política de açudes é posta em dúvida sobre se é a melhor forma, com um custo alto, de garantir o recurso hídrico. O engenheiro Ney Barros acredita que, ao menos nas próximas décadas, a política de açudagem deve continuar. “Mesmo quando chove menos, não há ano de previsão zero. Algo que precisa ser feito, e o Governo do Estado do Ceará está implantando, são os eixões das águas. O importante é estabelecer bacias de reserva para as águas e canais de distribuição. Dessa forma, se pode levar água para a região dos Inhamuns, por exemplo, onde chove tão pouco”, explicou.

Eixos

Existem oito eixos de integração hídrica construídos no Estado do Ceará (332,90 quilômetros de extensão) um em construção e cinco projetados. O primeiro trecho do Cinturão das Águas, que já está sendo chamado de Canal do Cariri, deverá receber as águas integradas do São Francisco, numa extensão de 160 quilômetros. A tarefa principal será levar a água para o maior número de habitantes, melhorando a qualidade de vida.

MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER