Transposição

31 de outubro de 2008 - 13:59

O primeiro trecho

Transposição do São Francisco

Primeiro canal deve ficar pronto em dezembro

 

Local de onde sairá o canal com a água do Rio São Francisco, em Cabrobó (PE), para o Ceará. À direita, as escavações já concluídas da primeira etapa da obra, que compreende dois quilômetros do projetado (Foto: Antônio Vicelmo)

Centro de Cabrobó município pernambucano que será beneficiado com obras de esgotamento sanitário

 

As obras de transposição do Rio São Francisco modifica a paisagem geográfica e social de Cabrobó (PE). As obras de transposição das águas do Rio São Francisco correm em ritmo acelerado. Estão concluídas as escavações do primeiro canal do Projeto Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. Falta somente o nivelamento para que o canal atinja o perfil adequado para o escoamento da água. É o ponto de partida do Eixo Norte que conduzirá as águas do São Francisco do município de Cabrobó (PE) para o Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O canal, com extensão de dois quilômetros, está sendo construído pelo Batalhão de Engenharia do Exército, sob o comando do capitão Andreos de Souza. Ele promete concluir a primeira etapa já no mês de dezembro.

A partir daí, isto é, logo depois dos primeiros dois quilômetros, será construída a primeira estação de bombeamento. Em seguida, a água descerá, por gravidade, até a barragem de Tucutu, com capacidade para 250 milhões de metros cúbicos de água, de onde será feita a distribuição para o leito dos rios que fazem parte do Projeto de Integração.

Este segundo canal, que liga a estação de bombeamento à barragem de Tucutu, numa extensão de sete quilômetros, está sendo construído por um consórcio de empresas privadas, denominado de Águas do São Francisco. As duas frentes de trabalho contam com 781 pessoas, entre engenheiros, técnicos e operários e 300 viaturas e máquinas pesadas, tratores de esteira, motoniveladoras, caminhões e escavadeiras.

Os nove quilômetros de canais representam apenas pouco mais de 2% do caminho de 400 quilômetros a serem percorridos pelas águas. Nos trechos de travessia de rios e riachos serão construídos aquedutos, (sistema de canalização, ao ar livre ou em subterrâneo, destinado a captar e conduzir a água de um lugar a outro) e túneis para a ultrapassagem de áreas com altitude mais elevada.

Estações de bombeamento

Para vencer o desnível do terreno entre os pontos mais altos do relevo, ao longo dos percursos dos canais, e os locais de captação no Rio São Francisco, serão implantadas nove estações de bombeamento: três no Eixo Norte, com elevação total de 180 metros, e seis no Eixo Leste, elevando a uma altura total de 300 metros.

Ao longo dos eixos principais e de seus ramais, serão construídas 30 barragens (reservatórios de compensação), permitindo o fluxo de água nos canais mesmo durante as horas do dia em que as estações de bombeamento estiverem desligadas (as bombas ficarão de 3 a 4 horas por dia desligadas para reduzir os custos com energia). Isto significa que para sua conclusão, prevista para 2014, “muita água ainda vai passar por debaixo da ponte”.

Já foram contratadas as empresas que realizarão as obras civis dos lotes 3 e 4 do projeto. De acordo com a Assessoria de Imprensa do Ministério da Integração Nacional, a empresa Encalso é a vencedora desses lotes e será responsável, entre outras obras, pela construção de canais, túneis e barragem, inclusive hidrelétricas.

Segundo o diretor de projetos estratégicos do Ministério da Integração Nacional, Francisco Campos Abreu, o primeiro lote já possui as ordens de serviço e a previsão é de que sejam assinadas as dos lotes 2, 3, 4, 5 e 6 até o fim deste mês. “Logo após a assinatura é feita a mobilização e, depois, vão instalar o canteiro de obras”.

Licitados

Os lotes 5 e 6 já foram licitados, com publicação dos resultados no Diário Oficial da União (DOU) no fim do mês de julho. No quinto lote serão investidos R$ 161,8 milhões. O vencedor foi o consórcio Encalso/Conpav/Arvek/Record. O sexto lote será no valor de R$ 223,4 milhões, vencendo o consórcio EIT/Delta/Getel.

Cabrobó. Antes mesmo da retirada da primeira gota d’água do rio, os benefícios já estão chegando. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Prefeitura da Cabrobó (PE) assinaram, em Brasília, convênio no valor de R$ 4 milhões para a implantação do sistema de esgotamento sanitário da cidade.

A estação de tratamento vai beneficiar cerca de 30 mil pessoas e faz parte do Programa de Revitalização do Rio São Francisco, uma das prioridades do Governo Federal. O compromisso do Ministério da Integração Nacional e da Codevasf é garantir saneamento básico às 250 cidades que hoje despejam lixo no “Velho Chico”.

Segundo a Assessoria de Imprensa do Ministério da Integração Nacional, para a realização das obras do Projeto São Francisco, serão implantados 36 Programas Básicos Ambientais (PBAs), que visam a eliminação, minimização e controle dos impactos ambientais provocados pela implantação e operação do empreendimento. No PAC está previsto o total de R$ 226 milhões para o atendimento desses programas.

O município Cabrobó, que antes era conhecido como produtor de cebola e maconha, transformou-se num canteiro de obras. A procura por casas aumentou, o preço dos aluguéis subiu, gerando reflexos positivos no comércio local. O garçon Ronilson Chaves, do Via Hotel, diz que o movimento de hóspedes aumentou em mais de 50% nos últimos meses.

Os benefícios deste chamado “Eldorado sertanejo” refletem na cidade Salgueiro, a 66 quilômetros de Cabrobó, onde está instalado o escritório do Ministério da Integração Nacional, que coordena o projeto. O gerente do posto de combustível Imperador, Francisco Barros, conhecido como “Chico Mago”, garante que o movimento dos postos e dos quatro hotéis da rede Imperador aumentou em mais de 50%. “Salgueiro hoje é outra cidade, é um Eldorado sertanejo”.

Apesar do crescente desenvolvimento, o município de Cabrobó ainda está marcado pela violência. “Aqui em toda parte tem roça de maconha. A gente encontra a erva com facilidade em toda esquina. Todo dia tem assalto nas estradas”, adverte um policial que preferiu não se identificar, acrescentando que na cidade impera a “lei do silêncio”. Ninguém fala sobre os crimes praticados. Nos últimos 15 dias foram registrados dois assassinatos praticados com requintes de crueldade.

Diário do Nordeste
20/08/2008